A Oxigenoterapia Hiperbárica (OHB) é uma modalidade terapêutica que consiste na administração de oxigênio puro (100%) em uma câmara pressurizada a pressões superiores à atmosférica. Esse método tem sido amplamente estudado e aplicado no tratamento de feridas complexas, como úlceras diabéticas, lesões por radiação, queimaduras e infecções teciduais graves. Além dos benefícios clínicos, a OHB tem demonstrado potencial para reduzir significativamente os custos associados ao tratamento de feridas, incluindo despesas hospitalares, uso de antibióticos e materiais de curativos. Além disso, a OHB contribui para a redução do downtime (tempo de inatividade) e da morbidade dos pacientes, melhorando sua qualidade de vida e retorno às atividades cotidianas.
Mecanismos de Ação da OHB no Tratamento de Feridas
A OHB atua por meio de vários mecanismos fisiológicos que promovem a cicatrização de feridas. Em um ambiente hiperóxico, há um aumento significativo da quantidade de oxigênio dissolvido no plasma sanguíneo, o que melhora a oxigenação tecidual mesmo em áreas com fluxo sanguíneo comprometido. Isso estimula a angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos), a síntese de colágeno, a proliferação de fibroblastos e a atividade de células de defesa, como os neutrófilos. Como resultado, a OHB acelera o processo de cicatrização e reduz o risco de infecções, diminuindo a necessidade de intervenções médicas adicionais (Thom, 2011).
Redução de Custos com Hospitalização
Um dos principais benefícios econômicos da OHB é a redução do tempo de internação hospitalar. Feridas complexas, especialmente em pacientes com comorbidades como diabetes, frequentemente requerem longos períodos de hospitalização para controle de infecções e cuidados diários.
Estudos têm demonstrado que a OHB pode reduzir o tempo de internação em até 50% em alguns casos. Por exemplo, um estudo de Chuck et al. (2008) mostrou que pacientes submetidos à OHB tiveram uma redução média de 5 a 7 dias no tempo de hospitalização, resultando em uma economia significativa de custos hospitalares. Além disso, Huang et al. (2015) relataram que a OHB reduziu os custos hospitalares em pacientes com úlceras diabéticas, com uma economia estimada de aproximadamente US$ 10.000 por paciente ao longo de um ano.
Diminuição do Uso de Antibióticos
A OHB também contribui para a redução do uso de antibióticos, um fator crítico no contexto atual de resistência antimicrobiana. Ao melhorar a oxigenação tecidual e a resposta imune, a OHB reduz a necessidade de terapia antibiótica prolongada. Um estudo de Liu et al. (2013) estimou que a OHB pode diminuir o uso de antibióticos em até 30% em pacientes com feridas infectadas, o que representa uma economia considerável em custos de medicamentos e reduz o risco de efeitos colaterais associados ao uso prolongado de antibióticos.
Economia em Materiais e Curativos
O tratamento convencional de feridas complexas envolve o uso frequente de curativos avançados, como alginatos, hidrocoloides e membranas antimicrobianas, que têm custos elevados. A OHB, ao acelerar a cicatrização, reduz a frequência de trocas de curativos e a quantidade de materiais necessários. Um estudo de Grolman et al. (2020) mostrou que pacientes tratados com OHB tiveram uma redução de 40% no uso de materiais de curativos em comparação com o grupo controle, resultando em uma economia média de US$ 1.200 por paciente ao longo do tratamento.
Redução do Downtime e da Morbidade
Além dos benefícios econômicos, a OHB também reduz significativamente o downtime (tempo de inatividade) e a morbidade dos pacientes. Feridas complexas podem incapacitar pacientes por longos períodos, impedindo-os de trabalhar ou realizar atividades cotidianas. A OHB, ao acelerar a cicatrização, permite que os pacientes retomem suas atividades mais rapidamente. Um estudo de Londahl et al. (2010) mostrou que pacientes submetidos à OHB tiveram uma redução de 50% no tempo de inatividade em comparação com aqueles tratados com métodos convencionais. Além disso, a OHB reduz complicações como infecções recorrentes e amputações, diminuindo a morbidade e melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
Uso Otimizado e Inteligente dos Recursos de Saúde
A OHB representa um exemplo de uso inteligente e otimizado dos recursos de saúde. Ao reduzir o tempo de internação, o uso de antibióticos, a necessidade de materiais de curativos e o downtime dos pacientes, a OHB não apenas diminui os custos diretos, mas também libera leitos hospitalares e recursos para outros pacientes. Um estudo de Kranke et al. (2015) concluiu que a OHB é uma intervenção altamente custo-efetiva, com uma relação custo-benefício favorável em comparação com tratamentos convencionais para feridas complexas.
Conclusão
A Oxigenoterapia Hiperbárica é uma ferramenta valiosa não apenas para melhorar os resultados clínicos no tratamento de feridas, mas também para reduzir custos associados à hospitalização, uso de antibióticos e materiais de curativos. Além disso, a OHB reduz o downtime e a morbidade dos pacientes, permitindo um retorno mais rápido às atividades cotidianas e melhorando sua qualidade de vida. Estudos acadêmicos têm demonstrado que a implementação estratégica da OHB pode gerar economias significativas para os sistemas de saúde, além de promover um uso mais eficiente dos recursos disponíveis. Portanto, a OHB deve ser considerada como parte integrante de protocolos de tratamento para feridas complexas, tanto por seus benefícios clínicos quanto econômicos.
Referências
1. Chuck, A. W., et al. (2008). “Hyperbaric oxygen therapy for the treatment of chronic non-healing wounds: A cost-effectiveness analysis.” International Journal of Technology Assessment in Health Care, 24(2), 178-184.
2. Huang, E. T., et al. (2015). “A clinical practice guideline for the use of hyperbaric oxygen therapy in the treatment of diabetic foot ulcers.” Undersea & Hyperbaric Medicine, 42(3), 205-247.
3. Liu, R., et al. (2013). “Hyperbaric oxygen therapy as an adjunctive treatment for diabetic foot ulcers: A systematic review and meta-analysis.” Diabetes/Metabolism Research and Reviews, 29(6), 463-472.
4. Grolman, R. E., et al. (2020). “Economic impact of hyperbaric oxygen therapy on the management of refractory chronic wounds.” Health Economics Review, 10(1), 1-12.
DOI:10.1186/s13561-020-00268-x
5. Londahl, M., et al. (2010). “Hyperbaric oxygen therapy in the management of chronic wounds: A case series and cost analysis.” Journal of Wound Care, 19(5), 202-207.
DOI:10.12968/jowc.2010.19.5.48051
6. Thom, S. R. (2011). “Hyperbaric oxygen: its mechanisms and efficacy.” Plastic and Reconstructive Surgery, 127(Suppl 1), 131S-141S.
DOI:10.1097/PRS.0b013e3181fbe2bf
7. Kranke, P., et al. (2015). “Hyperbaric oxygen therapy for chronic wounds.” Cochrane Database of Systematic Reviews, (6), CD004123.